“Esse povo construtor é capaz de reinventar a historia e
legitimar essa historia, num mundo que já proclamou o fim da historia”.
Por Mauro Garcia
O
termo caipira tem sido utilizado para designar as pessoas oriundas do meio rural e que apresentam certos
comportamentos peculiares que os identificam de imediato, seja no modo de
falar, vestir ou de caminhar. O dicionário o classifica ainda como um
“indivíduo tímido, acanhado” e afeito às dificuldades da vida na roça. Pelo
menos é dessa forma que os compositores há muito tempo descrevem o nosso sertanejo,
decerto inspirados no estereótipo do personagem criado por Monteiro Lobato, o
“Jeca Tatu”. A postura típica do matuto está igualmente representada de forma
acentuada, com ênfase ao exagero de expressões e trejeitos imortalizados pelo
impagável Mazzaropi. Essa mistura de componentes resultou na consolidação da
imagem de um ser renitente e despojado de cultura, mas com uma carga expressiva
de valores morais arraigados na alma, que transmitem uma alta dose de confiança
aos seus interlocutores.
O
cidadão das áreas urbanas carece de valores que o homem da roça cultua a cada
dia. Seja no cumprimento espontâneo com um aperto forte de mão, seja no olhar
sereno e tranquilo ou na fala pausada e comedida. Essa condição o diferencia do
homem urbano que vive a conturbada correria da vida moderna, sem tempo para
apreciar as coisas mais simples da vida. O campo oferece uma qualidade de vida muito superior ao da cidade,
porém cobra seu preço. A labuta diária é exaustiva e ao mesmo tempo
gratificante. As marcas do sol ardente e da poeira da terra são visíveis no
semblante do sertanejo, assim como as mãos ásperas e judiadas pelo trabalho
incessante e penoso. Mas a satisfação em colher os frutos do esforço constante
é um presente divino para quem molha todos os dias a terra fértil com o suor do
seu trabalho. Atualmente o campo é servido por quase todos os recursos
disponíveis no meio urbano. Energia elétrica, telefone, internet, vias pavimentadas,
transporte escolar e outros benefícios predominam na imensa maioria das
propriedades rurais, proporcionando excelente qualidade de vida. Até nos
rincões mais longínquos o homem encontra algum tipo de comodidade, que ameniza
as dificuldades em seu cotidiano.
A figura do caipira tradicional, que andava descalço, fumava
cigarro de palha e gostava de dedilhar sua viola nas noites de lua cheia vai
lentamente ficando para trás, transformando-se em lenda no imaginário popular.
A imagem do letras. Um exemplo desse interesse
e que atrai cada vez mais simpatizantes é o conhecido “sertanejo
universitário”, com músicas que carregam um forte apelo rural. Alavancadas
pelos eventos de rodeios, a nova tendência tem forte influência entre os
jovens, que se identificam imediatamente com as baladas bem produzidas. Na
esteira dos temas rurais, a moda “country” pegou carona numa versão chique,
importada e adaptada para o gosto do consumidor brasileiro. Mesmo elitizada e
acessível a uma seleta parcela da sociedade, as roupas fazem sucesso em todas
as faixas etárias, conferindo um ar de “status” ao consumidor fiel do estilo.
poeta choroso, que vivia no ranchinho de sapé e exalava nostalgia
pela ingratidão da mulher amada vai sendo esquecida. O legado deixado pelos
legítimos representantes de uma era impregnada de saudosismo oferece inspiração
para os jovens artistas, que acabam regravando antigos sucessos em versões
atuais em que a poesia é evidenciada de forma a exaltar os valores culturais da
gente da roça. As mudanças também são verificadas nos diversos estilos musicais
da atualidade que procuram inserir temas rurais em suas
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